O olhar humano é sempre interpretativo da realidade, mas há consensos que trazem maior objetividade ao que se vê e ao que se sente. Penso interpretar aqui, para uma grande maioria, o que presenciamos nessa Semana Santa.
Depois de mais de dois anos, impedidos pela covid-19, pudemos, neste ano, realizar os atos piedosos da Semana Santa em igrejas, praças e ruas, e com grande participação do povo. Quanta saudade!
Vi, estampado no rosto da nossa gente, a alegria desse novo momento; não raro, testemunhado com lágrimas de comoção e gratidão – por estarmos vivos e podermos voltar com essas celebrações a alimentar a nossa fé em Deus; alimentar nossas esperanças e lutas por dias melhores e nossa maior comunhão fraterna de irmãos e irmãs.
Vi celebrações piedosas, acompanhadas de fiéis sedentos em ouvir a Palavra de Deus, celebrar sua fé e renovar propósitos cristãos de seguir a Jesus Cristo e de, em tudo, fazer a santa vontade de Deus.
Vi igrejas, praças, ruas e casas enfeitadas para saudar Jesus crucificado-ressuscitado, nosso Deus e Salvador.
Vi crianças, jovens, famílias, adultos e idosos seguindo pelas ruas de nossa cidade, com o coração em júbilo, participando das procissões e das caminhadas de penitência, entoando seus cânticos devocionais, fazendo suas rezas, como a do terço mariano. Muitos, ao passar das imagens, se benziam com o sinal da cruz, outros ajoelhavam. Era a fé simples e profunda, vivida pelo povo, manifesta em gestos e ações a desafiar, em sua sensibilidade e discernimento, até mesmo o conhecimento sistemático da teologia, da busca constante da razão humana em compreender os desígnios de Deus.
Vi sinos tocando, anunciando dor, esperança e alegria; vi incensos subindo aos céus, a levar a oração do povo a Deus; a evocar o sagrado.
Vi muita gente com o sorriso no rosto ajudando, ajudando, ajudando... arrumando igrejas, palanques, enfeitando ruas, preparando as celebrações, vestindo roupas para servir, ajudando no trânsito, acolhendo fiéis... partilhando o pão.
Confesso que por vezes me veio à mente e ao coração que mais parecia a multidão a caminhar para a Jerusalém celeste que João, na visão, segundo o livro do apocalipse, dizia se reunir para celebrar a vitória do cordeiro.
Estava tão bonito que mais parecia o céu ou quem sabe Tabor, vivido na história, a mostrar a grandeza de Deus, em seu amor por nós, confortando nosso coração com as alegrias pascais.
Foi o que eu vi.
Pe. Marcelo Moreira Santiago
Foto: Rui Souza (Pascom)