Irmãos e irmãs,
A gente sempre sonha com uma vida melhor, eu não consigo imaginar as pessoas desejando uma vida pior para si. Queremos sempre mais e que esse mais seja o melhor para nós. Pode parecer egoísmo, mas vamos ser sinceros, não é egoísmo desejar coisas boas para nós, sobretudo quando para alcançá-las a gente não fere, não maltrata e nem destrói as pessoas.
Sim, desejamos mais e melhor. Quando chega o final do ano, gosto de ver o frenesi das pessoas que sonham em ganhar a “mega sena da virada”. As pessoas apostam num sonho, o sonho de uma vida melhor. E acreditam, de modo geral, que a vida melhor vem acompanhada do tesouro. Todos que trabalham duro, que suam suas camisas e dão suas vidas pelo trabalho que exercem agem desta maneira para que no final do mês recebam seus salários mínimos ou mais que mínimos um pouco, para terem uma vida mais digna: pagar o aluguel, quem sabe? Ou a prestação da casa que conseguiu comprar financiada? Quem sabe um carro, os medicamentos, o material escolar dos filhos, a boneca tão sonhada da pequenina filha, a chuteira de futebol do guri, que sonha em ser jogador profissional, para ganhar dinheiro e brilhar como uma estrela social. Quem sabe o dinheiro chega para pagar uma faculdade ou o curso técnico? Quem sabe ajudar os pais ou algum irmão ou irmã?... a gente sonha com dias melhores... sonha com uma vida melhor... isso não é egoísmo, desde que o sonho seja justo e honesto.
Jesus hoje no Evangelho nos pede para não juntarmos tesouros na terra, ele tem razão, afinal, os tesouros terrenos e humanos são efêmeros. Nem reis e nem rainhas com todo seu tesouro conseguirão escapar das dificuldades da vida, das incongruências da existência e principalmente não escaparão da iniludível morte. Os tesouros na terra podem até nos favorecer consolo material, mas não poderão nos fazer ter consciências justas e retas, corações agradáveis a Deus que buscam viver a bondade e a misericórdia.
O que Jesus quer dizer então? Podemos ter todas as riquezas da terra, mas se não juntarmos tesouros em nossos corações, seremos seres humanos dignos de dó. Ricos por fora, miseráveis por dentro. Esta é uma condição difícil para aqueles que desejam ser filhos e filhas de Deus. Se nossa busca estiver naquelas coisas e situações que nos afastam de Deus e de nossa capacidade em sermos perfeitos da mesma maneira que o Pai é perfeito, no amor, nossos tesouros possuirão brilho, mas não possuirão valor.
Por isso, perguntar ao nosso coração onde estão nossos tesouros indicará muito onde estamos na fé. Onde estão nossas riquezas? Aqueles valores altíssimos de nossa fé? Os valores da justiça, da ética, da misericórdia e da prática do bem? De que forma iluminamos nosso olhar? O que faz nosso olhar brilhar, nossos corações acelerarem de alegria? Qual a riqueza e o tesouro que nos iluminam?
O nosso tesouro é o outro. Nosso tesouro também é o bem de todos. Não podemos ser felizes sozinhos, sorrir sozinhos, enquanto muitos choram afastados de condições dignas para suas vidas e para a vida dos seus. O nosso tesouro, a riqueza do céu, é aquele e aquela que nossas mãos operantes ajuntam fazendo o bem e buscando a dignidade humana para todos.
Onde estiver nosso coração estará nosso tesouro: e ele deve estar no amor que alcança a paz e desfaz os laços da inimizade, está onde não produzimos a maldade, está onde a prática da caridade é uma resposta à nossa intimidade com Deus que nos chama a sermos perfeitos no bem praticado. Nós encontramos nosso tesouro quando nossos cinco pães e dois peixes, na generosidade de quem sabe amar, se transformam em banquete para a multidão.
E então descobriremos que a vida melhor está na capacidade de fazermos o bem a todos sem distinção e distribuirmos esse tesouro com largueza. A vida melhor estará também onde houver a paz, onde houver distribuição justa da renda sem o ideal da meritocracia, mas usando o belíssimo princípio aristotélico da igualdade que busca tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de sua desigualdade, ou seja, não há uma régua que meça todos da mesma maneira em suas condições mais profundas e reais de vida, ao contrário, a medida é compreender onde as desigualdades humanas desestruturam a vida e onde, o “dai-lhes vós mesmos de comer”, se transforma em imperativo de constituição de um tesouro no coração para que seja ofertado a Deus.
Sonhamos sim com dias melhores...mas que sejam para todos também...
Pe. Jean Lúcio de Souza