Após a ressurreição o Senhor quis permanecer próximo aos seus discípulos. Sua presença rediviva se tornou consolo e esperança para os apóstolos que, dispersos pelo medo e pela vergonha de O terem abandonado, encontravam-se à beira da desistência do propósito de edificação do Reino de Deus.
A presença do Cristo Ressuscitado é consolo e suporte no momento da desesperança. Quando o discípulo amado diz a Pedro, após a pesca abundante – é o Senhor! – Pedro, tomado por tal esperança que nasce do consolador anúncio, não deseja perder tempo, pula no mar, adianta-se, ele tem pressa, quer ver, estar, sentir a presença do Senhor vivo e ressuscitado, como força para caminhada e dom do perdão.
A presença de Cristo é sempre esperança. Um olhar de Jesus convoca novamente à missão. Ele os impulsiona a crer mais e crendo, despertos pela coragem, transformam seus corações em um manancial de graças e seguem o Senhor.
Mas, a presença do Senhor, nestes dias, também é a confirmação da missão, a preparação para a unção crismal do Santo Espírito, catecumenato realizado pelo próprio Senhor.
É “despedida” suave, tranquila, que vai renovando os discípulos no mais puro e genuíno compromisso com o Kerygma (querigma), isto é, o anúncio público da verdade cristã (Mc 16,15) comunicado, vivido e visto.
Desde os primeiros momentos da vitória do Cristo sobre a morte, até seus mais belos encontros com os discípulos, como ocorre no caminho de Emaús, Ele os renova em sua vocação. Jesus não teve somente a preocupação em mostrar-se vivo (Lc 24,40ss), mas desejou revigorar os ensinamentos, abrindo-lhes a inteligência e fazendo com que seus corações voltassem a arder (Lc 24,32), na mesma sintonia do coração de Jesus.
Naqueles momentos de profunda intimidade com os discípulos, sem a presença das grandes multidões, tudo se tornava ainda mais simbólico. A palavra “adeus”, não ganha contornos definitivos, ao contrário, assemelha-se a um “até breve”, porque Ele mesmo declara: estarei convosco (Mt 28, 20b). Quem está sempre com os seus não se despede de modo definitivo, fica, sempre, através do que fez, ensinou e consagrou.
O que Jesus comunicou aos discípulos com a própria vida agora deve ser vivido e comunicado por eles.
A ascensão do Senhor que hoje celebramos marca o momento da continuidade da missão com a bênção do Cristo para que os seus (nós) fôssemos bênção por onde caminhássemos. O que celebramos hoje é em suma a concretização da vitória do Cristo sobre a morte que regressa para o lugar que é seu, à direita do Pai, mas também, é a concretização de seu desejo, uma Igreja, uma assembleia de missionários.
Jesus, claro, nunca pensou em uma instituição com CNPJ, nem desejou as estruturas maciças que hoje a Igreja possui e conserva. Podem ser necessidades do tempo presente, mas jamais devem suplantar o desejo latente de missão, comunhão e participação, em Cristo, por Cristo e com Cristo. Ele quer sim, e muito mais, discípulos (Lc 24,47) e discípulas (Mc 16, 9-10) corajosos e intrépidos no querigma.
Jesus, na cena de hoje, renova seu compromisso de anúncio aos discípulos, rememora o mistério de sua paixão, morte e ressurreição, comunicados desde Moisés, pelos Profetas e salmos, o antigo que se estende no novo. É preciso que se compreenda a escritura à luz da encarnação do Verbo Divino que está conosco. Jesus os interpela, insiste – vós sereis testemunhas – e sim, haveremos de testemunhar a beleza deste anúncio verdadeiro que converte os corações a uma vida batismal sempre nova a todos e a beleza de se verem resgatados no amor de um Deus encarnado que não desiste de ninguém.
A missão não é lunática. A missão não é para as nuvens. A missão se dá na realidade do chão onde pisamos, assim anuncia-lhes o anjo – Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? – ou seja, missão é movimento vivo e contínuo com o Cristo no Espírito. Não se trata de ficarmos parados, mas de sairmos e com coragem não temer as adversidades do anúncio. Olhar para o céu e ficar parado é alienar o Evangelho. Missão é ação na vida cotidiana! Todos os dias, o dia todo...
Hoje, caros irmãos e irmãs, celebrando esta festa tão importante para todos nós, que nos sintamos vivamente inseridos nesta missão, nos sintamos renovados em nosso ardor missionário e que o desejo vivo de comunicarmos a beleza do Evangelho seja nossa bandeira. Que este dia seja para todos nós consolo e esperança que nos anima a crer longe e a construir pontes e paz e reconciliação. Seja nesta mesma esperança lugar da habitação do Espírito Santo em nós e na comunidade, não sejamos causa de separação entre os irmãos. Sejamos comunicadores alegres pela “ordem” de Cristo, testemunhas de seu amor que vivemos e que nos alcançou, por isso comunicamos esse amor, amor que O levou à cruz e o fez vitorioso e conosco adentra no santuário da vida eterna.
Pe. Jean Lúcio de Souza