Caros irmãos e irmãs!
Estamos na semana da Ascensão e a Igreja se depara com a realidade da despedida, dos últimos “conselhos” do Cristo e sua oração. A oração rogatória de Jesus é dirigida ao Pai com fortíssimos desejos ligados não somente à unidade, mas também à proteção dos discípulos que ficam.
Percebemos em um movimento inicial a íntima relação de Jesus com o Senhor Deus de Abraão. Dirigindo-se a Deus chamando-o de Pai, Jesus insiste em sua pedagogia familiar, Ele mostra, dia após dia, qual o seu lugar na história da salvação, Ele é o Filho do Deus Altíssimo, que em tudo realiza a vontade do Pai.
Aquele Senhor Eterno e todo poderosos o Pai Santo, é o Pai que santifica a todos e todas as coisas, por isso, seguindo o exemplo deixado por Jesus na oração da Unidade, lembra-nos que o “Pai de todos nós” é Santo e sua vontade deve ser realizada na missão dos discípulos como foi feita na missão de Jesus, por essa razão, Ele reza pedindo em favor da comunidade.
Nós mineiros temos um hábito interessante a famosa e curiosa pergunta – você é filho (a) de quem? Para os outros e para a história, saber de quem somos filhos (as) nos identifica com uma realidade familiar que nos constitui enquanto pessoas para a sociedade. Não somos conhecidos, principalmente na infância por nossos sobrenomes, quais sejam, o Silva, o Barbosa, o Pereira, somos identificados segundo nossa filiação – aquele ali é o José, filho de Neusa, ou aquela ali é Maria, filha de Antônio... o nome nos identifica, identifica quem somos e identifica nossa raiz forte.
O primeiro pedido de Jesus é solene e é insistente – guarda-os – esse pedido está ligado ao nome do Pai. O nome pertence à dimensão da mais pura intimidade, estar protegido pelo nome do Pai, nome que santifica e faz com que toda realidade tangível da fé seja dignificada por aquele nome que se liga ao nome de Jesus. E qual o sentido disso? Lembremos que na gênese do nome “Jesus” está o verbo salvar, em hebraico. O nome Jesus quer dizer “o Senhor salva” ou o “Senhor é salvação” e, em Jesus, ungido na verdade do Pai, seu nome adquire forma e ação, é o agir do “Emanuel”, é a ação do Deus conosco, que salva...
Ora, se socialmente somos assim identificados e protegidos, mais ainda, diante do nome de Deus que nos guarda, seremos guardados e aí sermos santificados. Como bem expressa São João “vede quão grande amor nos tem dado o Pai: que sejamos chamados de filhos de Deus, e nós o somos”(1Jo 3,1), sim, somos filhos de Deus e trazemos seu nome, como identidade mais profunda.
O Senhor é nossa Salvação e Ele diz por nós ao Pai para que sejamos salvos à medida da santificação, enquanto ato pleno do desejo de Deus. Somos e estamos separados para o Pai por Jesus – não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que os escolhi (Jo 15,16-17) – para que neste espaço sejamos guardados no amor.
Mas, o grande sentido de estarmos guardados, liga-se à beleza da unidade. Estar guardado não é estar trancado, é acima de tudo sentir-se pertencente a um “lugar”, a uma família, é entrar por uma porta, mesmo que estreita e, sentir-se em casa. A unidade provoca isso, a unidade impede a dispersão, quem está guardado em Deus, não se aparta da união da casa, por isso Jesus declara, que naquela unidade o Pai e Jesus estabelecerão em nós sua morada (Jo 14,23) e ali se partilhará a intimidade da família à mesa com o Senhor da vida.
Logo após o pedido de se guardar aqueles que o Pai mesmo havia dado, Jesus diz da alegria daqueles que guardados no amor do Pai e vivendo a unidade com o Cristo possam participar de Sua alegria. Estar no Pai, com o Pai e viver segundo a vontade do Pai é o lugar de nossa alegria, que não é um ocaso, um momento, mas um compromisso.
Tem um ditado popular nordestino que acho muito engraçado – Viva Deus e morra o cão, porque quem gosta de tristeza é o diabo – este ditado popular me soa particularmente familiar, pois quem é da família de Deus e por Ele é guardado não pode conhecer a patológica e insistente tristeza social causadas pela ausência do Amor. A tristeza e o mal social têm seus frutos (guerras, fome, pobreza, rancor, ódio, indiferença) que se distanciam da alegria de pertencermos a Deus.
Mas, ao mesmo tempo, é certo que, aqueles que são guardados, também são protegidos para que a alegria não lhes seja roubada pelo mal. Sabemos que aqueles e tantos males como as guerras, a fome, a miséria, os preconceitos e todas as outras formas de produção do mal na sociedade servem para nos roubar pelo desânimo ou pela conivência.
O Senhor nos ensinou a pedir ao Pai na oração da unidade – livra-nos do mal – livra-nos de tudo aquilo que concorre com nosso Pai, Deus-Amor e nos rouba a capacidade de buscarmos a felicidade no Senhor. Nossa morada interior não pode ser invadida por aquilo que é maligno. Guarda-os, livra-os do mal que rouba a alegria e bagunça a casa interior, daqueles que me destes... Assim roga o Senhor.
Por esse motivo somos consagrados na Verdade-Palavra (ou Palavra da Verdade). Tal consagração é a unção na vontade sagrada do Deus-Palavra, isto é, Jesus Cristo. Nela encontramos o envio que se dá na consagração e pela consagração na verdade. Somos enviados em missão, mas somos guardados, somos amados, protegidos, defendidos para que nossa alegria seja plena em Jesus.
Que neste dia possamos buscar a compreensão das marcas desta oração poderosa de Jesus em nossas vidas, amém!
Pe. Jean Lúcio de Souza