Na primeira leitura vemos que a "Lei de santidade" que conduzia o povo no Antigo Testamento, elenca, além das festas, as normas de ordem social para os anos santos, seja o ano sabático todos os sete anos (uma semana de anos), seja o ano jubilar todos os cinquenta anos (sete semanas de anos), valorizando assim a santidade do dia de sábado e o esquema septenário da semana. Sob esta estrutura econômico-social, descobrem-se elementos teológicos que realçam o desenvolvimento da revelação divina. Ao conceito de Deus criador e Senhor da história e do mundo, ligam-se os temas do resgate e da remissão das dívidas. O ano jubilar, que tem carácter social, mas com fundamento religioso, amadureceu na experiência positiva do ano sabático. Fala-se dele neste texto e no livro dos Números 36, 4 e em Ezequiel 46, 17.
O fundamento religioso destas leis sociais encontra-se na concepção hebraica segundo a qual os bens do mundo são iguais para todos: a terra pertence a Deus, que libertou o povo da escravidão do Egito; os homens são irmãos e a liberdade da pessoa é um bem inalienável.Tudo isto se realiza plenamente em Jesus, que liberta a humanidade do mal e concede o perdão dos pecados. Deus não quer prender, nem manter prisioneiro quem quer que seja. Ele quer a remissão: a remissão das dívidas e a remissão dos pecados.
A Igreja se inspirou nesta lei do Levítico para instituir o Jubileu, que é um ano de remissão, um ano de graça, em que oferece a possibilidade de obter a remissão da pena merecida com o pecado. Para isso, ela nos propõe, como nesse Ano Santo do Jubileu “Peregrinos da Esperança”, um contato mais fácil com o Senhor, nos convida a aproximar-nos Dele, com a certeza de que somos libertados e recebemos nova coragem para cumprir cada vez melhor o bem a que somos chamados a realizar.
- No Evangelho, São Mateus nos relata sobre o martírio de João Batista. A decapitação dele foi motivada pela sua intransigência moral e pela sua forte personalidade. O profeta não se amedrontava diante de nada, nem de ninguém, quando se tratava de denunciar a imoralidade. Não se amedrontou sequer diante de Herodes, que tendo repudiado a sua mulher, tomou por esposa a mulher de seu irmão. Herodes continha a sua vontade de vingança, porque temia uma rebelião popular. Mas Herodíades não se preocupava com isso. Assim, quando Herodes jurou dar à filha de Herodíades o que quer que lhe pedisse, a adúltera não hesitou em sugerir a cabeça de João (vv. 6-11). E assim foi feito. Com o seu martírio, João Batista terminou a missão de precursor. E Jesus compreendeu que era chamado a percorrer o mesmo caminho.
Para refletir: Tenho vivido esse Ano Jubilar, como um ano de conversão, de partilha e empenho pela justiça social? Encontro ou não em Jesus Cristo a esperança que não decepciona? Como tenho conduzido minha vida à luz da fé? A exemplo de João Batista, sou perseverante na missão recebida, anunciando e profetizando a verdade e a justiça e denunciando o pecado? O que mais me pede e também me consola a Palavra de Deus hoje? ...
Oração
Senhor Jesus,
dá-nos tranquilidade diante do imenso campo de trabalho
que nos espera.
Faz-nos compreender e assumir a espiritualidade do Jubileu,
“Peregrinos da Esperança”
para defendermos a vida e a dignidade dos nossos irmãos e irmãs,
sem qualquer exceção.
Torna-nos solidários com os teus pobres,
com aqueles cujo sangue não é julgado precioso
pelos tiranos e covardes deste mundo,
mas que é precioso aos teus olhos.
Dá-nos a coragem de João Batista
para denunciarmos os abusos dos poderosos.
Dá-nos a coragem da caridade na verdade,
ainda que isso nos venha a custar caro,
como custou a João Batista, como custou a Ti.
Amém.
- Peça hoje a graça de se manter na Esperança, que não decepciona: “Enviou-me a proclamar um ano da graça do Senhor” (Is 61, 1-2a).
Pe. Marcelo Moreira Santiago