- Ele nasceu perto da cidade de Lião, na França, a 8 de Maio de 1786. Cedo descobriu a sua vocação para o sacerdócio. Mas foi excluído do seminário pela sua dificuldade nos estudos. Foi, então, ajudado pelo pároco de Écully e, com quase trinta anos, foi ordenado sacerdote. Em 1819, foi nomeado pároco de Ars. Permaneceu quarenta e dois anos a paroquiar a pequena aldeia, que transformou, graças à sua bondade, à pregação da Palavra de Deus, a sua mortificação e à sua caridade. A sua fama espalhou-se de tal forma que gente de toda a parte o procurava para se confessar e ouvir os seus conselhos. Faleceu a 4 de Agosto de 1859. Foi canonizado por Pio XI, em 1925, que também o declarou padroeiro de todos os párocos. Nesse dia, reze, de modo especial, pelos ministros ordenados, especialmente pelos padres de sua comunidade.
- Na primeira leitura, do livro dos Números, vemos como no deserto, os Israelitas protestam e se lamentam. A dura opressão, sofrida no Egito, foi transformada na recordação de uma existência quase paradisíaca: “Lembramo-nos do peixe que comíamos de graça no Egito, dos pepinos, dos melões, das verduras, das cebolas e dos alhos. Aqui, nada tem gosto ao nosso paladar. Não vemos outra coisa a não ser o maná” (vv. 5-6). Não estão satisfeitos com a porção de maná que, cada dia, Deus lhes envia. As lamentações do povo são “um peso” (v. 11) para Moisés que, por sua vez, se lamenta com Deus: “Porque atormentas o teu servo” (v. 11). Ele se sente de tal modo abatido que chega a pedir a morte: “Se me queres tratar assim, dá-me antes a morte” (v. 15).
É fácil ceder à saudade do passado, quando nos deixamos guiar, não pelo espírito de fidelidade à aliança com Deus, mas pelos nossos instintos, como podem ser a fome e a sede. Podemos ver na caminhada de Israel, através do deserto, uma imagem do itinerário do cristão e da Igreja. Somos tentados às mesmas murmurações: O alimento do espírito, por vezes não nos parece suficiente, veem-nos as saudades do passado, as exigências de Deus nem sempre nos são bem compreendidas. Cada cristão passa pelas suas provações. Mas ai de quem se fixa no passado. O caminho rumo a terra prometida, a Jerusalém celeste, exige de nós confiar em Deus e agradecidos acolher o alimento quotidiano, a Palavra de Deus e a Eucaristia.
- No Evangelho, Jesus, qual novo Moisés no deserto, se encontra no meio de uma multidão cansada, faminta, doente. Esta multidão sente dificuldades em seguir o Messias. Mas é n”Ele que espera tudo. Jesus corresponde aos seus anseios de modo eficaz e milagroso. De fato, Jesus cura os doentes, que Lhe são apresentados, e sacia a fome dos que O seguem. Mas exige a participação dos discípulos, que são chamados a dar-se a si mesmos e a pôr em comum o que têm (vv. 16s.).
Esta narrativa, o milagre da multiplicação dos pães, antecipa, na intenção do evangelista, o da instituição da Eucaristia (Mt 26, 26). Os discípulos serão ministros, distribuindo aos outros o pão que Jesus lhes dá, que é Ele mesmo (v. 19). O milagre aponta para os tempos messiânicos, aponta para Jesus, o Messias. É Ele quem sacia todas as necessidades humanas, nos curando e nos alimentando, libertando-nos de todo mal. Na comunidade escatológica, que é a Igreja, fundada por Jesus, devem desaparecer, com a compaixão e a partilha, toda a doença e toda a necessidade. O maná quotidiano, da Palavra e da Eucaristia, é alimento para o caminho, o viático para a jornada.
- Para refletir: Diante da vida e da missão que Deus me confia, o que em mim é mais comum: a murmuração ou a ação de graças? Diante da multidão faminta, sou tocado pela misericórdia ou domina em mim o egoísmo e a indiferença? Tenho me alimentado da Palavra de Deus e da Eucaristia para, na alegria de servir, colocar também meus dons e bens para serem multiplicados por Deus em favor de seu povo? Que Deus me pede diante destas leituras?
Oração
Senhor Jesus,
como me sinto semelhante ao teu povo, outrora peregrino no deserto.
Todos os dias, me mandas o maná salvador da Palavra e da Eucaristia.
Mas também, todos os dias,
me deixo levar por saudades de outros alimentos e bebidas.
A leveza do pão do céu, muitas vezes, não me satisfaz.
Já experimentei a liberdade e a libertação com o êxodo do pecado.
Mas, com frequência, olho para trás, sonho com o passado,
e esqueço os teus dons.
A minha vida se assemelha, por vezes, ao deserto árido,
e o meu caminho torna-se pesado e cheio de miragens enganadoras.
Perdoa-me, Senhor! Tem paciência comigo.
Renova as tuas maravilhas,
para que não me esqueça de Ti e da tua Aliança.
Sacia-me cada dia com o pão do céu,
para que avance no deserto rumo à pátria que me preparaste.
Amém.
- Para hoje, peça a graça de viver uma vida na alegria de partilhar e servir, para que a ninguém falte o necessário: “Todos comeram e ficaram saciados” (Mt 14, 20).
Pe. Marcelo Moreira Santiago