- A primeira leitura, do Livro dos Números, nos mostra a contestação de Maria e de Aarão contra Moisés. Estes reclamam contra o privilégio de Moisés falar em nome de Deus, de comunicar os seus ensinamentos e mandamentos. Julgavam que Moisés não era a pessoa mais adequada, pois tinha tomado por esposa uma mulher etíope (v. 1). Deus reage violentamente contra esta contestação preconceituosa, reafirmando a autoridade de Moisés: “Eu o estabeleci sobre toda a minha casa! Falo com ele frente a frente, à vista e não por enigmas; ele contempla a imagem do Senhor!” (v. 7). Depois interroga Maria e Aarão: “Como é que não tivestes medo de falar contra o meu servo, contra Moisés?” (v. 8). A “ira” de Deus, diante de tamanha injustiça, revelou-se terrível: Maria ficou leprosa e Moisés teve que interceder por ela diante do Senhor. É verdade que nem todas as críticas são “contestação”. Por vezes, a crítica é útil e lícita, sobretudo diante da opressão, da arbitrariedade, da injustiça. De qualquer forma deve ser feita de modo construtivo, objetivando a verdade e a justiça. Aqui, nesse contexto acontece, como pode acontecer conosco, de modo negativo: são fruto da inveja e do ciúme. Deus não compactua com a mentira, a inverdade.
- No Evangelho, São Mateus já tinha narrado uma tempestade que surpreendera os discípulos enquanto o Mestre dormia (8, 23-27). Nessa ocasião, Jesus revelou-se como "Senhor do mar", o que suscitou a pergunta sobre a sua identidade mais profunda. Jesus aproveitou para reafirmar a necessidade da fé para quem O queira seguir (9, 19s.). No episódio de hoje, a tempestade surge quando os discípulos avançam sozinhos pelo mar, enquanto Jesus tinha ficado para “orar na solidão” (v. 23). A sua chegada milagrosa gera nos discípulos perturbação e medo (v. 26). Mas a sua palavra lhes traz serenidade e lhes dá coragem (v. 27). Pedro até se atreve a imitar o Mestre, descendo ao mar e tentando caminhar sobre as ondas (vv. 28ss). Mas a sua fé hesita e Jesus tem de lhe estender a mão e mostrar-lhe que, só apoiado n´Ele, pode chegar à salvação (vv. 30ss.). A mesma experiência de salvação é feita por todos aqueles que encontram-se com Jesus, que reconhecem a sua verdadeira identidade e podem dizer, como Pedro: “Tu és, realmente, o Filho de Deus!” (v.32). A falta de fé nos impede de reconhecer Jesus. Sem uma fé madura, podemos ser tragados pelas dificuldades que enfrentamos no dia a dia.
- Para refletir: O que me leva a contestar: o ciúme e a inveja, ou o compromisso com a verdade e a justiça? Fico calado diante das injustiças e opressões ou ajo, ao modo de Deus, censurando, com indignação, os preconceitos e as injustiças? Nas “ondas” agitadas da vida, onde encontro serenidade e coragem para enfrentá-las? O que me move, é medo ou a confiança em Deus? O que pede de mim a Palavra de Deus hoje? ...
Oração
Recebe-me, meu Deus, na tua intimidade,
tal como recebeste Moisés, teu servo e amigo.
Acolhe-me como acolheste Jesus, teu Filho muito amado.
Que na oração, ainda que prolongada pela noite dentro,
eu possa experimentar a tua viva participação
na minha vida de cada dia,
o teu estar atento para escutar e acolher as minhas preces.
Dá-me a graça de falar Contigo,
como um amigo fala ao seu amigo.
Dá-me, ainda mais, a graça de, como Jesus,
rezar imerso no teu coração de Pai.
Amém.
- Para hoje, pedir a Deus a coragem que nasce da fé na presença de Deus: “Coragem! Sou eu. Não tenhais medo! (Mt 14,27).
Pe. Marcelo Moreira Santiago