O que podemos dizer sobre o olhar curioso de Herodes? Ele possuía uma curiosidade sobre a vida do profeta... Poderia este movimento manifestar uma procura pela realidade profunda de sua existência que começara a perceber e sentir necessidade de algum tipo de mudança com as palavras de João Batista? No relato conservado no Evangelho de Marcos (6,20) sobre a morte de João a comunidade declara o seguinte: com efeito, Herodes tinha medo de João, pois sabia que ele era justo e santo, e por isso o protegia. Gostava de ouvi-lo, embora ficasse embaraçado quando o escutava. O que a comunidade queria designar? Mais ainda, como compreendemos popularmente que o coração é terra estrangeira, até mesmo para seu possuidor, como querer compreender essa relação entre as palavras de João e o coração de Herodes? Pouco podemos saber, entretanto a nova curiosidade é intrigante, Herodes procurava ver Jesus, encontro que só acontecerá em um momento derradeiro.
No final do Evangelho de Lucas (23,6-12) a comunidade traz a narrativa onde Pilatos, fugindo ao juízo de condenação de Jesus, promove o encontro do Senhor com Herodes que “ficou muito contente ao ver Jesus, pois já ouvira falar a respeito dele e há muito tempo desejava vê-lo”. Esse encontro derradeiro sacia a vontade de Herodes que queria ver Jesus, curiosidade e nada mais. Queria ver, mas não compreendia a realidade do Reino de Deus – Herodes e seus soldados trataram Jesus com desprezo, caçoaram dele e o vestiram com uma roupa brilhante – e o mais complexo, perversidade, Herodes e Pilatos voltam a ser amigos.
O grande problema está justamente no movimento infecundo na vida de Herodes. Ele é ao mesmo tempo, o espaço à beira do caminho onde caem as sementes, o terreno pedregoso e o espaço espinhoso... Herodes não se permitiu ser terra boa. Se acaso houvesse em Herodes uma, mesmo que pífia, vontade de mudança com a presença de João Batista esta fora reduzida a um nada diante da possibilidade de reconhecimento de Jesus como Rei. Mas era preciso que a sabedoria de Deus vencesse a arrogância dos poderosos.
Procurar ver, ser um mero curioso não leva ninguém ao encontro fecundo com o Senhor. Ouvir ao longe mas não desejar ir ao mais profundo da existência junto ao Senhor é dispersão. Esse tipo de coração veste Jesus de honras de estado, faz com que Ele brilhe, mas ao mesmo tempo seja ridicularizado. A curiosidade cria espaços vazios dentro e fora de nossos corações, reduzimos a fé ao espetáculo, à mediocridade que nos afasta da realidade que nos coloca em contato com nossos irmãos e irmãs. A verdadeira fé não é uma curiosidade, não é um mero ver, a verdadeira fé não é um “spa espiritual”, ela exige presença na presença do Senhor e um compromisso com a proteção da vida de modo integral. Corramos ao encontro do Senhor que nos impulsiona: ide pelo mundo e anunciai o que vistes e ouvistes!
Pe. Jean Lúcio de Souza