Roque Gonzalez de Santa Cruz nasceu em 1576 na cidade de Assunção, no Paraguai. Era sacerdote quado entrou na Companhia de Jesus em 1609 e durante quase vinte anos procurou civilizar os índios que habitavam nas florestas daquelas regiões, agrupando-os nas “reduções” e instruindo-os na fé e nos costumes cristãos. Foi morto, traiçoeiramente, pela fé, a 15 de novembro de 1628, juntamente com Afonso Rodriguez, espanhol. Dois dias depois, em outra “redução” sofreu cruel martírio João de Castilho, também espanhol, que tinha sido ardente defensor dos índios contra seus opressores. Esses três sacerdotes jesuítas, martirizados na região que hoje é diocese de Santo Ângelo, foram canonizados pelo Papa João Paulo II em 1998. Seu testemunho nos pede fidelidade a Deus, ardor missionário e serviço aos irmãos.
Leituras: 2Mc 7,1.20-31; Sl 16; Lc 19,11-28.
- Na primeira leitura, ao martírio de Eleazar, segue-se o do sete irmãos e sua mãe, que heroicamente morrem na esperança da vida futura. A perseguição movida por Antíoco IV leva à prisão e condenação de uma mulher e de seus filhos. Instada a convencê-los a que abandonassem as tradições dos antepassados (v. 24), esta mulher não cede, mas exorta e os encoraja à resistência. A fala da mulher é uma admirável profissão de fé no Deus da vida: Aquele que misteriosamente plasmou a vida dos seres saberá restituí-la aos que a perdem para Lhe serem fiéis (vv. 22s. É a mais explícita profissão de fé na ressurreição, em todo o Antigo Testamento. A resistência dos mártires irrita o rei, que volta e insiste para que a mãe convença o filho mais novo, o único ainda vivo, a apostatar, a trair a sua fé. A mulher dá a entender que faz a vontade ao rei, porque se dirige ao filho em língua hebraica. Na verdade, continua a exortá-lo à resistência ao rei, e à fidelidade ao Deus da vida. E, mais uma vez, reafirma a fé na ressurreição: “aceita a morte, para que, no dia da misericórdia, eu te encontre no meio deles” (v. 29). O nosso texto termina com a corajosa profissão de fé do jovem: “Não obedecerei às ordens do rei, mas somente aos mandamentos da Lei, dada a nossos pais por intermédio de Moisés. Mas tu, que és o inventor desta perseguição contra os hebreus, não escaparás à mão de Deus.” (v. 30s.)
- No Evangelho, São Lucas quer nos ensinar o que significa ser discípulos e introduz o episódio do rei recusado que, aliás, introduz o tema das páginas seguintes em que Lucas quer ilustrar o tema da iminência escatológica, ligando-se assim não só ao evento histórico da entrada de Jesus em Jerusalém, mas também com a questão “quando virá o reino de Deus” (Lc 17, 20). O Evangelho nos diz que Jesus contou esta parábola para aqueles que pensavam “que o Reino de Deus ia manifestar-se imediatamente” (v. 11), e o aguardavam com impaciência, esperando que Deus, finalmente, pusesse tudo em ordem na terra. Mas Jesus lhes faz compreender que Deus não tem pressa, que não quer intervir imediatamente e que, Ele mesmo, o Cristo, não vai assumir já o poder universal. Primeiro, irá fazer uma longa viagem, durante a qual os homens, fiéis e infiéis, são livres. Quem é fiel, não deve temer esta liberdade, mas acolhê-la com confiança. O Senhor nos dá a liberdade, mas, para Lhe sermos fiéis, devemos usá-la e não pensar como o servo fraco, mal: “Senhor, aqui tens as tuas moedas que eu tinha guardado num lenço, pois tinha medo de ti” (v. 20s.). Se assim fizermos, não corresponderemos à nossa vocação. Devemos arriscar, usando a devida prudência. De que serve, por exemplo, guardar a fé, se ela não for usada para que outros tomem consciência do projeto de salvação de Deus? Devemos arriscar, aceitar iniciativas, ser criativos. Para agradar a Deus, devemos aproveitar da nossa liberdade, produzindo bons frutos para os irmãos: “Senhor, as cem moedas renderam dez vezes mais” (v. 16). E o Senhor responde: “Muito bem, bom servo; já que foste fiel no pouco, receberás o governo de dez cidades” (v. 17). Que possamos também agir assim.
- Para refletir: O que lhe diz o testemunho da mãe dos Macabeus, na primeira leitura? Tenho multiplicado os dons que Deus me confia? Como me sinto, enquanto servidor das coisas de Deus? Em que preciso melhorar?
Oração
Senhor,
livra-me do medo de arriscar e perder,
do medo de não estar à altura das minhas obrigações,
do medo de fracassar.
Não sei quantas moedas me confiaste.
Mais do que ficar a contá-las,
para verificar se ainda as tenho todas,
ajuda-me a utilizá-las,
com generosidade e responsabilidade,
ao serviço dos irmãos e irmãs,
ao serviço do teu Reino.
Dá-me a graça de, a cada dia, cumprir com simplicidade,
todos os meus deveres, pequenos e grandes,
para que todos sejam felizes,
Te conheçam e amem.
Liberta-me dos medos e do calculismo,
que tantas vezes me paralisam,
impedindo-me de avançar
os poucos metros do caminho,
que pões à minha frente.
Ajuda-me a entregar-me a Ti,
com generosidade e segurança,
porque, afinal,
és Tu o Senhor da vida.
Amém.
- Compromisso à luz da fé: Seguir com Jesus que: “caminhava à frente dos discípulos, subindo para Jerusalém” (Lc 19,28).
Pe. Marcelo Moreira Santiago